domingo, 15 de julho de 2012

GE – parte 12: a vida continua...

Relatos de uma GE – parte 12: a vida continua...

Parece que tudo acaba acomodando. Depois que percebi que meus órgãos começavam a funcionar direito, tive que encontrar maneiras de fazer o resto funcionar também.
Em poucos dias meu intestino, minha imunidade, minha temperatura e minha bexiga estavam funcionando, não como um relógio perfeito, mas como um relógio que só faltava o ponteiro dos segundos.
Dois dias depois que meu intestino voltou a funcionar, tive um sinal vermelho. Era a menstruação chegando. Após ter passado pela cirurgia de emergência e perdido nosso neném, os hormônios começaram a cair, a final das contas cessou o crescimento de nosso sonho. Naturalmente menstruei. Claro que foi muito mais intenso, no primeiro dia tive cólicas horríveis e um fluxo maior, também pudera, meu útero estava com endomedrio mais espesso para a chegada do neném que acabou ficando no caminho e não chegou.
Uns dias antes, eu comecei a ficar preocupada com a reação que eu teria quando viesse a menstruação, pois estaria ali sinalizado que não havia mais bebe na minha barriguinha. Achei que seria infinitamente dolorido, mas não foi.
De alguma forma a gente usa artifícios mentais para escapar do sofrimento. Quanto eu vi minha menstruação pensei: - agora meu organismo esta limpando, agora estou funcionando, agora tudo volta ao seu devido lugar. De alguma forma me senti com um alivio nos ombros. Fica a expectativa de como serão meus ciclos. Iniciou dia 09.07.12 um novo ciclo.
Uma nova fase começou a se instalar sobre nós. Iniciamos um fase mais amena. Comecei a preparar o questionário que faria para a medica na próxima consulta, entrei em meus emails e descadastrei nosso bebe dos sites de gravidez, foi dolorido, mas preciso. Guardei as roupinhas que tínhamos ganho, os US e os exames de gravidez. Começamos a planejar outros sonhos focalizar em outros pontos.
Nos cuidarmos mais, praticar exercícios, planejar alguns moveis para casa, planejar nossa churrasqueira... e planos para os próximos anos. Quanto pensar em engravidar novamente, estamos tentando deixar simplesmente fluir.
Como havida dito, sexta feira 13 tinhamos consulta marcada para a retida dos pontos. Fomos.
A cicatriz estava bem fechadinha, conversamos com a medica e perguntamos sobre próximos passos. Ela nos afirmou que dentre seis meses poderíamos começar a tentar novamente, mas que teríamos um acompanhamento mais de perto. Falamos para ela que queríamos sim ter filhos, mas que não queríamos dar tiro no escuro, então faríamos todos os exames possíveis, no devido tempo, para ficarmos tranquilos nas novas tentativas. Ela concordou, disse ser prudente e que discutiríamos mais sobre isso em meu retorno em três semanas, onde ela daria alta de fato, cada coisa a seu tempo.
Ate lá, cerca de um mês da cirurgia, muitos cuidados devem ser tomados, como usar uma cinta, estou com bastante volume na barriga ainda, passar pomada na cicatriz para não ficar marca, não levantar peso, não fazer esforço físico e nem manter relação sexual. Saímos da consulta esclarecidos acerca de alguns fatos e de certa forma frustrados a cerca de outros, mas como ela mesma disse, cada coisa a seu tempo...
Voltamos com a sensação de dever cumprido ate então. Durante os dias seguintes procuramos nos fortalecer, hoje conseguimos falar sobre tudo sem derramarmos rios de lagrimas, claro que passo por momentos de tristeza, porem estou conseguindo controlar, respirar fundo e fazer as lagrimas dos olhos secarem... a vida continua.
Acredito que daqui para frente, estarei relatando no blog, novamente, os vários aspectos de nossas vidas, afinal das contas, nosso maior presente é podermos SONHAR JUNTOS.

Obs: preciso deixar registrado aqui palavras de gratidão, a todos que, de alguma forma, acompanharam os relatos da Gestação ectópica que tive.
Ao nosso bebe, que foi um cometinha que passou em nossas vidas rapidamente, mas que nos ensinou mais que uma vida toda. Amaremos você para sempre.
 A meu companheiro amado marido, você faz a vida valer a pena, amo muito você, obrigada por ser essa pessoa maravilhosa, sou feliz com você e jamais medirei forças para te fazer feliz também.
 A minha família, não tenho nem como encontrar palavras de gratidão, amo muito vocês, obrigada pela atenção e cuidados redobrados.
Aos amigos, agradeço com carinho, saibam que, mesmo que não estejam aqui em casa, vocês fazem a diferença. Leentje querida, amo você miguxa!
E finalmente, porem não menos importante: obrigada pelo carinho de todos os blogueiros de plantão. As mensagens que tenho lido estão me dando forças... são afagos em tempos difíceis. Valeu mesmo!

Abraços a todos.

Nana.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

GE – parte 11: montanha russa e o número 2.

Relatos de uma GE – parte 11: montanha russa e o número 2.

A visita teimosa e inesperada trouxe, surpreendentemente, as primeiras risadas e dores geradas por elas.
Rimos juntos, histórias fora do mundo hospitalar e pós operatório. Claro que a conversa passa por todos os processos básicos, afinal eles queriam saber o que houve e tinham direito a isso. O segundo momento da conversa, fez transformar uma “visita de medico” a uma visita de pessoas que nos amam e que amamos. Foi inevitável não rir. Assim como foram inevitáveis às dores de uma risada e de várias.
Pessoas que passaram por cirurgias abdominais sabem do que estou falando. O corte do tamanho de uma cesariana parece triplicar de tamanho quando se fala em dor. Dói muito mesmo, especialmente internamente, respirar fundo, tossir e rir gera um desconforto tremendo. Passadas as dores de uma risada semi contida, o alivio vem ao coração e a vontade de subir começa a surgir. As visitas foram embora, mas deixaram a sementinha da alegria.
Acordei melhor no domingo, embora tenha sido com o esquema do antibiótico e analgésico. A sensação de derrota amenizou e pudemos experimentar momentos altos além dos baixos, como uma montanha russa. Quase não chorei, e quase não questionei o mundo, minha sede era mover-me para respostas, e por isso mergulhei no mundo da net. Pesquisa frenética sobre gravidez ectópia, gravidez tubária, causas, soluções, tratamentos e futuro; sim: futuro, queremos mais um bebe.
Encontrei muitos fóruns além de sites informativos. Os sites esclarecem e dão ideia do contexto geral, de forma técnica, prática porém fria. Já nos fóruns encontrei o calor humano, a dor de quem passou por isso, relatos, duvidas, anseios, vitorias, derrotas e sonhos, isso mesmo: um mundo de sonhos. Chorei e encontrei a empatia, a troca e a solidariedade. Mergulhei em pequenos parágrafos, porém profundos. Historias, muitas vezes, mais complicadas que a nossa, e as meninas e meninos lá: lutando! Mulheres que passaram exatamente pelo que passei e não somente uma vez. Foi então que percebi como esse compartilhamento pode ajudar. Senti que poderia fazer o mesmo, e senti uma enorme vontade de saber mais e mais e mais sobre o que poderemos encontrar em nosso caminho futuro. Comecei a escrever esses relatos e a pesquisar tudo o que poderia. Sexta feira treze retornarei na medica, serão retirados os pontos, acho que ela ficará assustada (como uma boa sexta feira treze exige) por tantas perguntas que faremos. Boa sorte doutora!.
Antes de finalizar o relato desse dia, tenho que contar um fato importante: depois de 4 dias meu intestino resolveu funcionar. Eu fiquei com o c* não mão, fazer xixi já era super dolorido, a contração da bexiga parece movimentar todos os pontos, pensei que fazer o numero dois seria um parto, porem não foi. Resumindo trocaria o numero 1 pelo numero 2! Ufa que alivio! Bem vindo mais um órgão, vc esta funcionando bem!

terça-feira, 10 de julho de 2012

GE – parte 10: indo mais fundo e hora de emergir

Relatos de uma GE – parte 10: indo mais fundo e hora de emergir.

O Adriano já de inicio, foi um perfeito cuidador. Arrumou nossa cama, ajeitou espaço para tudo e ainda fez um cronograma dos horários dos remédios. Madrugada a dentro eu sô escutava o celular tocar e sentia ele colocando em meus lábios três comprimidos, antibiótico e analgésicos.
A primeira noite foi cheia de sonhos e pesadelos, acordei muitas vezes dando pequenos pulos, os quais faziam cada ponto interno arder. Não havia posição, se não, deitada de barriga para cima. Não tinha nem como me aconchegar no colo do meu amor. Foi barra, é barra.
Acordei sabendo que tudo estava errado, que eu tinha que ficar bem, comer bem, urinar bem, defecar bem, bem bem bem... e como é possível ficar bem?
E o tal: “se cuida”... Como era possível me cuidar? nem sentar na cama sozinha conseguia.
O que aconteceu nesse sábado foi a mais pura fossa cheia de cocos.
Revivi o pesadelo todo varias vezes e a cada dor no buraco que ficou em mim, batia a maior tristeza, bastava respirar. Acordei chorando, tomei os remédios chorando, fui fazer xixi chorando, tomei café chorando, tomei mais remédios chorando, almocei chorando, tomei banho chorando, dormi chorando.
Nada parece ser o suficiente em certas horas, nem mesmo o carinho e cuidado do meu marido, me questionei como esposa, como mulher, afinal ele escolheu a mim para ser a mãe de seus filhos, mas que mãe? Questionei minha parcela de culpa nisso, questionei as pessoas, questionei a ciência, questionei a medicina, questionei a minha fé, questionei o mundo.  Busquei culpados, busquei salvadores, busquei forças onde não tinha. Em vão.
Sim, um drama generalizado. Escrevendo agora vejo que ampliei meus olhares e que estou mais madura no momento. Sinto que os pensamentos que tive não são parecidos como os que tenho hoje. Estou em mutação.
O fato é que precisava passar por toda essa fossa cheia de cocos. Vivi brandamente o luto naquele dia. Resolvi que não queria ver ninguém. Falar com ninguém, escutar ninguém. Talvez se eu fosse uma avestruz eu estaria com a cabeça bem enterrada. Sempre tive muito ciúmes das minhas fossas e por isso não dividia com ninguém. A ideia que passava em minha cabeça era que teria ao meu redor abrutes. Entendam, não to chamando ninguém de abutre, apenas contando como eu estava me sentindo e o que pensava. Imaginava pessoas ao meu redor com pena nos dois sentidos, dó e penas pretas de abutres... Lembrei agora da observação que uma amiga fez outrora: “você não tem que ser forte sempre, estar vem sempre e não tem que guardar isso so para você”. Talvez essa seja uma característica minha, de não querer compartilhar minhas fraquezas e de não querer que as pessoas que amo me vejam no chão. Estou errada, eu sei. Prometo melhorar.
Desde o amanhecer daquele sábado, o Adriano estava igual barata tonta, indo e vindo, remédios, água, checar temperatura, checar o corte, desligar telefone, ligar para as pessoas falando que eu não queria ver ninguém, dispensar visitas, dar banho, trocar roupa. No egoísmo o levei, amarrado em um meteoro de cem toneladas, para o fundo do poço.
Choramos os dois e conversamos, muito.
Depois que o acontecimento se espalhou, recebemos apoios, muitos via sms. Não posso deixar de falar que algo foi unânime em todos os recados, mensagens, e ligações, não teve exceção: logo vcs terão outro filho.
Inicialmente esse voto foi reconfortante, ate mesmo da equipe medica ouvimos. Mas no dia da fossa com cocos, isso começou a soar como uma nota desafinada, afinal: nós queríamos “aquele” bebe. Não nos importávamos com o futuro, estávamos vivendo na pele o passado recente e o presente, como poderíamos pensar no futuro? Como poderíamos pensar em outro filho? Como poderiam desfazer rapidamente do neném que acabou de deixar de viver?

Novamente o drama amplificado pelo dia da fossa com cocos. O caos, eu sei, mas contestar, questionar, ficar com raiva, sentir desprezo, fez parte de nosso luto e consequente reconstrução e organização dos pensamentos, isso porque, no final do dia percebemos que não adiantou em nada questionar o universo, pois a vida continuou e precisávamos nos adaptar. Foi o que começamos a fazer quando, inesperadamente tivemos a visita do pai do Adriano e de sua companheira. Amáveis, agradecerei para sempre a teimosia em nos visitar. Obrigada.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

GE – parte 9: mergulhando na fossa

Relatos de uma GE – parte 9: mergulhando na fossa.

Acho que a anestesia é arrebatadora quanto passa totalmente. Não a anestesia do corpo, mas a anestesia mental. Voltar a realidade dói mais do que qualquer buraco na barriga.
Quando saímos do hospital, perdi o chão, foi o inicio do mergulho a uma fossa sem fundo. Minha mãe estava com um carro e me marido com outro, fui com ele, obviamente.
Mal entramos no carro, com toda aquela manobra que uma cesariana exige, cai no choro e pus a falar falar falar.
Estava inconformada, sabia desde o começo que tinha algo errado, tinha lido sobre isso, tinha sintomas, por que teve que chegar a esse ponto extremo? Como poderia não ter nada no ultrassom de uma semana atras? Como teria ovulado do lado esquerdo, e o neném ter se fixado na trompa direita? Por que não confiei em meus sentimentos? Porque isso estava acontecendo conosco? O que tínhamos feito de errado?
São perguntas que ainda estão em minha cabeça, algumas com respostas, outras sem previsão nenhuma de solução.
O Adriano dirigia quieto, visivelmente abalado, eu precisava falar, vomitar tudo aquilo. Ele também questionava, ele também sofria, ele também tinha perdido um sonho, e agora tinha ganho uma pessoa triste, inconformada e necessitada de cuidados.
Chegando em casa, meu pai, irmão e cunhada estavam nos aguardando. Respirei fundo tentando manter a calma e segurar o choro.
Falei com o pai, ainda dentro do carro, enquanto o Adriano fechava as cadelas e o portão. Desci do carro sem saber o que pensar.
Pisei dentro de casa e desabei nos braços da minha cunhada.
Olhar para tudo do jeito que estava parecia um vácuo no tempo. A orquídea, os sapatinhos, o livrinho de nomes na estante e o exame do positivo ainda em cima da mesa.
Incontestável que voltamos a realidade, impossível não mergulhar numa fossa.
Após algumas lagrimas e desabafos o controle volta. Relatamos tudo desde o inicio do fim. Depois ficamos a sos. Eu e ele e só.

GE – parte 8: depois que a anestesia passa

Relatos de uma GE – parte 8: depois que a anestesia passa

No meio da madrugada acordei. Impossível dormir deitada com a barriga para cima e as pernas formigando. Sentia uma leve queimação no novo corte, mas tolerável, bem menos intenso do que as dores da noite anterior (e menor ainda do que os apertos da medica do UPA).
Olhei para o lado, minha mãe dormia. Movimentei meus pés e senti que a anestesia estava passando. Adormeci novamente. Três horas da manha acordei assustada, estava sonhando que havia feito xixi na cama, e quase fiz.
Segurei o xixi na hora H. respirei fundo e percebi que já não estava mais anestesiada. Minha bexiga estava explodindo. Sem chances de dormir, e chances menores ainda de chamar uma enfermeira que, certamente, me obrigaria a urinar na tal da comadre. Não funciono assim, preciso de patente!.
Chamei bem baixinho por minha mãe, ela acordou na terceira vez, assustada, tentei não assustar mas não teve jeito. Falei que precisava ir ao banheiro, ela falou que chamaria uma enfermeira mas também sabia que se assim fosse, ela não deixaria eu sair da cama.
Minha mãe me entende muito, e nesse fato em especial. As vezes que fui sua acompanhante, nas cirurgias que ela passou, aconteceu a mesma questão. Ela não consegue urinar na tal da comadre. Ela sabia o que eu estava sentindo.
Então formos fazer arte. Ela me ajudou a sentar. O mundo disse oiii mah! E eu ignorei. Respirei fundo, pus meus pés no chão, segurei na mão da mãe e dei os primeiros passos. A sensação era que eu tinha corrido 60 km. Exausta, suando litros e branca igual giz. Apoiei-me na outra cama, em frente ao banheiro. Enjoei, fiquei tonta e, aguardei alguns instantes meditando. A mãe segurando o soro. Minha mãe resolveu ser reciever no momento e passou as mesmas sensações que eu, não deixou de ser cômico. Ficamos sentadas uma refletindo brancura para a outra, por um tempo.  Remada a “normalidade” e já no banheiro chamamos a enfermeira para ajudar a sentar no vaso, afinal, ela não faria eu voltar ate a cama antes do xixi.
Aliviada, com menor pressão na bexiga, fui para a cama e dormi, depois do Xingo da enfermeira.
Já era, boa noite.
Na manha seguinte tivemos a visita da medica bem cedinho, ela perguntou como eu tinha passado, como estava me sentindo e que provavelmente daria alta no dia seguinte. Falei a ela que eu gostaria de dormir em casa. Diante do apelo ela afirmou que passaria as oito da noite para ver o meu desenvolvimento e talvez pensar na alta.
Almocei comida, sopa to fora. Levantei mais vezes para urinar porem sem mundo rodante. Dormi bastante nos intervalos. Pensava pouco, muito pouco, sobre tudo.
A dor física ficou mais característica, sentia os pontos queimarem e sentia uma dor bem localizada no local que a trompa foi retirada. Dói de verdade e muito. Queima, arde, da pontadas, mas passa.

 Durante a noite anterior, logo após a cirurgia, conversei com o Adriano sobre avisar as pessoas da cirurgia. Apenas minha mãe foi informada, e era hora dos outros familiares saberem da perda. Logo que saiu do hospital, ele fez os telefonemas, imagino que tenha sofrido muito, e eu não estava ao seu lado. Também fico imaginando como deve ter sido triste a volta dele para casa, sozinho na estrada. Não deveria ter deixado ele ir embora sozinho. No dia seguinte ele chegou as duas da tarde, com atestado em mãos e uma olheira de urso panda. Passamos a tarde assistindo tv. Minha mãe saiu tomar um café e comer alguma coisa, e nesse momento ele contou que tinha feito os telefonemas, contei a ele q também havia mandado mensagens para alguns amigos; ficamos os dois quietos, cúmplices da mesma dor.

Minha bexiga estava funcionando bem, sentia fome, o que indicava que o estomago continuava funcionando como uma lombriga. Não tive nenhum sangramento, nem através dos pontos e nem via vaginal. Eu imaginei que teria uma menstruação ou algo do gênero, mas nada. No final da tarde, me sentia relativamente bem, queria ir para casa. Tomei banho, e vi a cirurgia, não era tão assustadora como em seu sentido figurado.
Aguardei a medica, pronta para a alta, e foi o que recebemos.
Ela frisou que preferia que eu ficasse embora tivesse condições para uma alta, pois a evolução foi muito boa, no entanto ela sabia que ir para casa significa muito. Fez varias recomendações, reafirmou que eu tinha que ficar em repouso absoluto, explicou que ainda tinham alguns coágulos no abdômen e que esses seriam absorvidos pelo organismo, e que para isso era importante o descanso total. Eu iria me sentir melhor, mas teria que continuar com os mesmos cuidados ate a retirada dos pontos.
Juntamos as coisas, sentei em uma cadeira de rodas e saímos do quarto, sexta feira, 21:00, 06/jul/2012.
Meu coração doeu quanto passamos pela ala da maternidade, as portas tinham enfeites e nominhos de bebes recém nascidos. Entrando no elevador senti que meus olhos estavam cheios de lagrimas. Era a anestesia mental passando. 

GE – parte 7: a cirurgia emergencial

Relatos de uma GE – parte 7: a cirurgia emergencial

Chorei horrores no relato anterior. Doeu muito saber que víamos uma vidinha sem direito a viver.
O Adri ligou para minha mãe, chorando e falou que ficaríamos por lá mesmo. Só deu tempo dela se organizar e pegar estrada em nosso encontro.
Depois do exame, tudo passou muito rápido. Fomos novamente a clinica, a medica nos atendeu, e confirmou tudo novamente. Disse que os médicos do exame ligaram também para ela. Não tinha muito o que ser dito, afinal já estávamos com os pés no chão e conhecíamos algo sobre os procedimentos. Foi importante termos informação, o pânico foi controlado por isso.
Ela olhou para meu marido e disse que ele estava certo, como poderia... Falei para ela que sentia algo diferente que não há como explicar, não tem ciência que explique sexto sentido, percepção e o tal pegar algo no ar.
Ela falou que tentaria poupar o possível, disse que a possibilidade era mínima em poupar a trompa direita, mas afirmou que se fosse possível meu ovário ficaria intacto. Falou que seria feita uma incisão como uma cesariana, pois operação por vídeo estava descartado, tinha a necessidade de drenar o liquido acumulado na cavidade do abdômen.
Claro que faz parte toda essa explicação, e é necessária. Mas eu queria o meu neném.
Desde a noite anterior eu não havia ingerido nada. A irritação foi tanta que meu estomago e intestino ficaram em stop. De certa forma isso foi bom, agora eu passaria por uma cirurgia e estar em jejum era importante.
Saímos da clinica com o pedido de internamento e agendamento da cirurgia nas mãos. A medica já havia ligado para o hospital, reservado leito, falado com anestesista, instrumentistas e uma colega profissional dela.
Chegamos ao HGU, fomos prontamente atendidos e encaminhados, minha mãe já estava a caminho e seria a minha acompanhante. Procedimentos normais foram tomados. Veia soro, medicamento...
Minha mãe chegou, eu já estava preparada, apenas aguardando o chamado medico. Quando ela entrou no quarto, obviamente meu olhos encheram de lagrimas. Durante as poucas semanas que vivemos a gestação, o lado avó de minha mãe ficou a flor da pele. Lãs finas e coloridas tomaram espaços na casa de meus pais. Revistas de receitas de roupinhas e mantas estavam por todos os cantos. Fora os relatos de alegria, onde meu pai falava da empolgação da mãe, e vice versa. Não era de estranhar meu olhos marejados quando a vi. Sem contar que ela é minha mãe. Quantas vezes consegui sossego somente no colo dela, quantas vezes o silencio dela foi mais compreensível que qualquer outra coisa no mundo... Tenho imensa gratidão de ter a mãe que tenho, o pai que tenho, a família que tenho. Temos laços tortos as vezes, talvez não tão lindos como laços de cetim mas fortes como nó de cipó. Amo muito e para sempre.
As enfermeiras da ala cirúrgica chegaram empurrando a maca. Despedi de meu marido, tão companheiro, e de minha mãe.
Já na sala de cirurgia tive contato com pessoas agradáveis. A enfermeira era falante, Ana Paula o nome dela. Um alto astral que só vendo, capaz de elevar a alma mesmo em momentos como o que eu estava vivendo.
Ela fez perguntas e falou muito, disse que logo eu me recuperaria, que uma amiga tinha passado exatamente pela mesma situação mas que há poucos tinhas estava feliz como uma nova gravidez. A propósito, quando entramos em dada situação parece que há mais pessoas na mesma do que imaginamos, disso falo depois.
O anestesista me lembrou o Jô soares, porem na versão ruiva. Concentrado e sutil nas respostas as minhas perguntas.
Quanto eu soube que a cirurgia teria anestesia raque (sei la se escreve assim), passou pela minha cabeça a possibilidade de manter-me consciente durante o procedimento. Fato: havia essa possibilidade. Ao contrario de muitas pessoas, eu prefiro assim. Prefiro saber exatamente o que esta ocorrendo, o desconhecido, para mim, gera um desconforto maior do que uma realidade dura.
Conversei com o anestesista e falei que queria ficar sóbria. Ele sorriu e disse que tudo bem, inclusive que era preferível Uma pessoa consciente consegue relatar melhor qualquer alteração. Falou que diminuiria as chances de eu vomitar, aspirar meu vomito para os pulmões e morrer afogada (trágico, mas ele falou bem assim), ri, pareceu-me uma piada do tipo humor negro.
 Eu tinha direito a um porre, como ele disse, e injetou o medicamento no soro. Conforme ele tinha alertado, eu senti o mundo girar e após alguns instantes corajosa.
Não sentia bem uma coragem, mas também não tinha medo. Acho que sentia uma imensa frustração, sensação de fracasso e impotência. Ficar ou não corajosa não mudava muito a situação, mas senti que meu coração ficou calmo. Também facilitou o relaxamento do meu corpo para que ele pudesse acertar o intervalo de minhas vértebras para a anestesia entrar em ação.
A medica chegou e tudo foi dado inicio. Senti enjôo no inicio, avisei o anestesista, ele aplicou outro medicamento, melhorei. Podia escutar toda a conversa e o procedimento. Também sentia meu corpo balançar na maca. O negocio é bruto mesmo. Fiquei imaginando como seria dentro de mim e o tamanho do estrago. Foi feito sucção do sangue hemorrágico, e esse pude ver correr por um cano, evitei olhar, não valia a pena.
Os equipamentos da sala eram todos automatizados. De tempo em tempo a pressão era medida em meu braço, assim como meus batimentos cardíacos. As medicas conversavam sobre assuntos aleatórios, parecia que estávamos fazendo as unhas ou tomando um café. Não vejo problema nenhum nisso. Trabalho é trabalho, e o fato de estarem à vontade, indicava, ao meu ver, que tudo estava sob controle. Ouvi quanto retiraram minha trompa direita e também quando ela pediu para que o material (meu bebe) fosse colocado em um vidro e encaminhado para análise. Ate o momento não tinha me dado conta que teria exame nesse aspecto.
A cirurgia terminou, todos respiraram aliviados (daquele jeito que só se vem em sala cirúrgica), e a medica veio falar comigo. Carinhosa, pegou em minha mão e afirmou que tudo estava como o esperado, que o procedimento foi realizado conforme planejado e que o corte foi baixo, pequeno e com pontos de cirurgia plástica para melhorar a chance de uma boa cicatrização.
A enfermeira falante, perguntou se eu queria ver o vidro com o material, acenei que sim. Era um potinho com formol, onde estava a trompa, restos dela, grudados em uma bolinha de ping pong cheia de água. Não era possível ver através da placenta, somente um liquido transparente atrás de um vidro embaçado. Fiquei admirada com o tamanho, e imaginei que o neném continuava no lugar mais especial do mundo, feito só para ele.
Dia 05/jul/12 as 21:00, tudo tinha acabado, eu estava meio chumbadinha ainda porque não conseguia pensar em algo muito profundo. Pareceu-me que no momento seqüente a cirurgia, sai da fraqueza de perda para uma força de luta, afinal a sobrevivência bateu na bunda. Eu precisava sair nadando.
No quarto: expectativas, relatei tudo. As horas passaram, e fomos dormir, anestesiada em todos os sentidos. Boa noite e ate amanha.

GE – parte 6: frieza e cena mais triste

Relatos de uma GE –parte 6: frieza e cena mais triste

Depois de sermos racionais e nos direcionarmos para o problema começamos a planejar nossos passos, não dava para ficar errando (podia ter complicado tudo essa nossa atrapalhação). Enquanto ele ligava, e finalmente conseguia falar com a medica, relatando os sintomas e inclusive a possibilidade de ser uma G.E., eu começava a colocar algumas roupas em uma mala, toalha, absorvente, sabonete... Olhei para ele e falei que era melhor levar, por que era possível passar por uma cirurgia. Ele concordou. Tomei banho com ajuda dele, lavei o cabelo, abri o guarda roupa, beijei o sapatinho de tricot vermelho do nenem e preparei a alma para a batalha.
Saímos de casa com a certeza que a volta seria dolorosa. Não avisamos ninguém; queríamos ter certeza, alem do mais, o que poderiam fazer... daqui para frente, relato tudo com muita dor mesmo, com muitas lagrimas no teclado, foram as cenas mais tristes que vivi e não tem empatia no mundo que possibilite alguém a sentir o que sentimos.
Chegamos ao consultório. Fomos atendidos, repetimos timtim por timtim, ela falou que teríamos que descartar tudo, que poderia ser algo alimentar em caso normal, mas o fato de estar grávida mudava tudo. Ela falou então que teria que realizar o toque. Feito o exame, e examinado a regiao abdominal, ela fez o pedido de ultrassom de urgência. Escutou novamento o Adri falando sobre a gravidez ectópica.
Fomos realizar o exame e retornar a clinica para definir os procedimentos seqüentes.
No caminho para o ultra, o mundo começou a ruir. Medo de algo certo e uma esperança totalmente inviável de estar tudo bem.
Sentamos na espera. Minha mãe ligou e perguntou para o Adri onde estávamos, ele falou que estávamos em Pg, e mais nada. Disse que estava tudo bem e desligou. Depois disso cai no choro, chorei muito mesmo ali na sala de espera na frente de todo mundo. Desolada. Mandei sms para minha mãe, resumindo que tinha passado mal durante a noite e que iria fazer exame, e ainda que poderia ter complicações. Ela só respondeu: - ok, não me deixe sem noticias, também amo vc.
Sabia que precisava ficar calma, mesmo porque, entrar chorando no exame, na minha percepção, poderia influenciar nas palavras do medico examinador. Então, respiramos e entramos na sala, firme como rochas.
Já na sala a auxiliar pediu para erguer a blusa, o medico entrou e perguntou, como estava, o que era etc etc etc.
Já de inicio, falei que era gestante e que tratava-se de uma emergência, olhei para ele seria e falei – acho que o neném estava preguiçoso e parou no lugar errado.
Ele ficou serio, mas imagino que entendeu que estávamos com pés no chão. Não seria novidade ele der uma noticia ruim, e  nem tão difícil. Optamos por não gravar o US. Ainda bem.
Durante o exame concentrei meu olhar no medico, queria ver a reação dele e formular minhas perguntas sem medo. Quando ele passou o aparelho sobre o abdômen a expressão dele mudou. Vou resumir porque dói muito.
As imagens tinham manchas escuras (liquido no abdômen, na cavidade, solto). Tinha rompimento com certeza, ele falou que tínhamos razão, que o neném estava fora no útero, ainda falou que teria mesmo que passar por procedimento cirúrgico, tudo muito claro. A medição do embriao deu seis semanas e um dia, exatamente como nosso calculo, apesar de tudo ele se desenvolveu normalmente.
... e a imagem mais triste de minha vida, o nenem estava la. Com seis milímetros, e com 132 bcm... ver o coraçãozinho dele batendo...  o inicio dos bracinhos e perninhas. Um lutador nosso neném, vivo apesar do rompimento da trompa. Não vou escrever mais detalhes.
 Laudo: gravidez ectópica localizada ao lado direita da linha mediana, presença de liquido na cavidade abdominal. 

GE – parte 5: rompimento e atrapalhações.

Relatos de uma GE – parte 5 rompimento e atrapalhações.

Aquela altura eu estava tentando curtir mais tudo o que estava em nossas mãos. Não sentia confiança mas os indícios eram bons, somos saudáveis, temos acompanhamento medico, nos amamos e temos bons motivos para acreditar que seremos ótimos pais.
Temos o costume de tomarmos banhos juntos, o resultado chega todo mês na conta de luz. O Adri beijou minha barriga antes de entrarmos no chuveiro, ficamos conversando sobre bobeiras. Como ele diz: estávamos faceiros.
Em poucos instantes senti o mundo começar a desmontar. Senti uma enorme dor abdominal, um desconforto agudo, como se fosse uma forte contração intestinal. Falei para ele – não gostei disso, e sai rápido do chuveiro, sentando no vaso. Vou tentar relatar como de fato me senti, o que senti e o que pensei.
Quando sentei achei que teria uma forte diarréia. Foi isso que ocorreu, porem sem controle algum. No mesmo momento senti uma tontura muito forte e náuseas. Comecei a respirar fundo para tentar entender o que estava ocorrendo. Vomitei no mesmo instante em que tinha uma diarréia incontrolável. Vinha a minha cabeça uma historia de uma amiga a qual, em um acidente, estava com hemorragia e sabia que entrar em pânico aumentaria o problema tendo em vista o aumento da circulação sanguinea com a respiração descontrolada do pânico, ela controlou a respiração a ponto de ser salva. Acho que eu não entrei em choque e não desmaiei porque fiz o mesmo, controlei a respiração e procurei manter a calma. O Adriano estava perto, isso também me facilitou a não entrar em pânico.
Agora eu sei que foi naquele exato momento que minha trompa direita tinha se rompido. Eu estava com hemorragia interna ocasionada pela ruptura.
A irritação gastrintestinal aguda ocorreu pela irritação dos órgãos e terminais nervosos ocasionado pelo contato do sangue da trompa rompida.
Na hora olhei para ele e pedi ajuda. Não tendo mais o que vomitar, e cessada a diarréia, entrei no chuveiro enxagüei-me e sai com ajuda dele. No momento estava com tontura, e sentia que minha região abdominal estava cheia de gases. A sensação era bem essa, muito acumulo de gás, na altura das costelas ate a parte baixa da barriga.
Deitei no sofá com ele, com intuito de melhorar, deitei de costas com os joelhos dobrados ao alto. Simplesmente apaguei. Acho que dormi de dor. Ou sei lá.
Meia hora passou e acordei. Estava entre os braços de meu marido. Ele esta me observando, perguntou se havia melhorado e ainda brincou falando que não poderia comer mais ovo. Parecia que o neném não gostava.
As dores continuaram e comecei a ficar muito preocupara, não tinha como ser apenas gases. Duas horas da manha de quarta para quinta, fomos ao UPA da cidade.
O que irei contar sobre essa madrugada é tão verídico quanto tudo o que estou, com lamentos, a relatar. Acreditem, só não tive um treco porque não era para ter. O UPA nos decepcionou.
Coloquei uma roupa mais quente e fomos procurar ajuda. Encontramos uma unidade de pronto atendimento próximo a nossa casa, e depositamos la nosso pedido de ajuda.
Passei por uma triagem, após ser praticamente carregada para dentro da unidade por meu marido. Horrível a dor, andar era muito difícil. Relatei precisamente o que tinha ocorrido, o que havia comido, a fase da gestação, e as dores agudas, estava com batimento 93 bcm, pressão 11 por 6.
Fomos encaminhados para uma ala de observação, um leito. Deitei na cama e aguardei poucos instantes ate a medica plantonista atender. o nome dela Michele, tive a impressão que não era mais velha que eu. Fazendo uma observação antes dos fatos: Voltarei, num futuro próximo a conversar com ela. Acredito que deva apresentar a ela o que se tratava meu quadro, sinto obrigação de ser um cidadã fazendo criticas construtivas (quando isso ocorrer, irei relatar).
Ela atendeu prontamente, relatei novamente o ocorrido, estava com muito dor e aparentemente calma, não sou o tipo de pessoa que entra em pânico, grita e chora nesses momentos de caos. Eu busco me concentrar na situação e pensar em soluções, no que buscar etc etc etc. Um pouco de frieza sim, mas com o c* na mão. Contei também a ela que havia feito o US e que inclusive não havia visualizado o embrião.
Ela começou a pressionar minha barriga toda, eu morrendo de dor e falando para ela não pressionar. O simples contado de pele já me dava espasmos, ela continuou com as pressões e prescreveu buscopan intravenoso. Falou que era inicio de gestação e não poderia medicar sem cuidado, saiu da sala e disse que voltaria após um tempo.
A enfermeira do local amarrou uma luva descartável em torno meu braço e colocou a agulha para o soro (essa da luva para mim é novo), soltou a luva e pronto, da lhe buscopan. Momentos depois, estávamos eu, Adri e bebe sozinhos no leito. A dor não diminuiu em nada (e tinha como diminuir?  era uma hemorragia interna! Fica minha pergunta).
Pedi para chamar a medica novamente. Dessa vez ela demorou um pouco mais, o medicamento já tinha terminado e a dor estava ali. Ela perguntou da dor e eu falei que estava da mesma forma. Ate contei que havia comido omelete, ela ate falou que poderia ter ligação com isso. Não quero ser manipuladora então vou tentar transcrever parte do dialogo, que foi mais ou menos assim:

- a dor não diminuiu? (medica)
- não, continua igual, parece gases.
- veja, eu não posso te dar medicamento para gases. Não sou obstetra e não vou prescrever medicação no primeiro trimestre de gravidez.
- eu entendo, so que a dor esta horrível, e se não tem mais nada que possa ser feito aqui, então vou procurar outra alternativa.
- então se vc quer sair, quer dizer que a dor melhorou,
- muito pelo contrario, se eu quero sair e pq estou preocupada e continuo com a mesma dor e também com dor nos ombros.
- mas fique ate cedo, amanha posso pedir exame de sangue e urina, também da pra fazer raio x
- mas não tem ultrassom?
- não, não temos. Sabe, acho que essa sua dor e preocupação de você não ter visto o embrião na sexta...
- tudo bem. Vou procurar ir para pg, e entrar em contato com minha medica.
- mas fique ate amanhecer, se vc tivesse, vamos pensar na pior situação, com aborto, você teria sangramento, mas vc não tem não e mesmo?
- não tenho sangramento, mas tenho dor, realmente nos vamos. Prefiro aguardar em casa o amanhecer.
- vocês quem sabem.

Tenso ne? Entendo que as vezes as unidades não dispõe de tudo que e necessário, porem fica a minha pergunta para quem puder responder: a conduta e desfecho do atendimento foi correto? Particularmente acho que não, mas sou leiga, posso estar errada, ou não.
O fato e que assinamos um termo de responsabilidade, colocamos que estávamos saindo porque a queixa inicial continuava, e que iríamos procurar outro atendimento.
Voltei para casa. Entrei desolada e quieta. Agora estava realmente preocupada, não eram gases. Não mesmo.
Mas porque não fui ate outro local? Simplesmente porque não tinha para onde correr. Há um hospital na cidade em que moro, porem o tal UPA teria o necessário, em teoria. Foi frustrante, e acabei nem querendo ir ao hospital. Talvez tenha errado aqui. Só pra contextualizar, a minha medica e também o hospital do meu plano, são da cidade vizinha, Pg. Para onde fomos posteriormente.
Antes de irmos a Pg, tínhamos o restante da madrugada pela frente. Hoje vejo que tínhamos q ter pego estrada aquela hora mesmo. Ainda bem que o pior não aconteceu.
Na madrugada em casa, deitei de barriga para cima com as pernas dobradas e joelhos ao alto, tinha a sensação que a dor era menos intensa nessa posição. Meu marido ficou de mãos dadas comigo, luz do corredor acesa, e cochilou, ele estava muito cansado. Eu não consegui pregar o olho. Lembrei das leituras sobre gravidez ectópica, inclusive sobre como a dor no ombro poderia ser um sintoma do rompimento. Entranha relação, mas tem explicação, a hemorragia causa irritações, e pode entrar em contato com nervos, os quais tem ligação com o ombro (algo assim). Fiz uma autoavaliacao e não tive mais duvidas, meu neném estava no lugar errado e eu estava com hemorragia interna, dores abdominais e no ombro.
Amanheceu, seis e pouco da manha, o Adri acordou perguntando como eu estava. Já levantou e saiu tentando ligar para a medica. Ele voltou ao quarto e eu falei para ele tudo que estava sentindo, falei para ele abrir o computador e pesquisar por gravidez ectópica sintoma.
Ele viu, e a ficha caiu.

GE – parte 4: pesquisando sobre GE

Relatos de uma GE – parte 4: pesquisando sobre GE

O termo era assustador e a realidade avassaladora, sentia muitas coisas que poderiam ser sintomas de uma gravidez ectópica, ou seja, fora do útero. No google tem muita coisa.
Entre sintomas, a tal borra de café, pequenas cólicas em um dos lados, abaixo do umbigo, alem de sintomas como seios doloridos, sono e enjôos. Olha so, esses sintomas ai também entram em gravidez dita normal, talvez isso dificulte o diagnostico precoce da GE. Sexto sentido alertando e eu pesquisando lendo e tentando me convencer que era pira e neura de grávida.
A todo instante compartilhava sintomas com meu marido, também falava a ele sobre o que tinha lido, que hora indicava normalidade e hora indicava algo errado. Em meu caso tive sintomas leves. Havia sim um desconforto no lado direito, porem sentia algumas pontadinhas no esquerdo. Tinha pequena mancha, mas parecia que estava sumindo: um caminho com dois sentidos, um para uma realidade cruel, outra para uma realidade mais provável, uma gravidez normal. E difícil acreditar no pior, ainda mais quanto se lê que a probabilidade de uma gravidez ectópica e de uma em cada cem gestações, apenas um por cento. Não podia estar acontecendo comigo. Não tive problemas com clamidea, não tive infecções nas trompas, e também não fumo, não consegui inserir meu histórico medico nos motivos para um gravidez ectópica. Porem continuei firme nas pesquisas, e optei para adiantar o ultrassom, mesmo não tendo qualquer tipo de sangramento.
Estávamos preocupados, mas uma preocupação velada. Saímos com amigos, jantamos, jogamos cartas com outros... mas o coração pequenininho.
Depois de dois dias tomando o medicamento, marquei o ultra-som, coloquei na cabeça que era importante. A essa altura eu estaria com cinco semanas de gestação e se fosse assim, o saco embrionário deveria estar visível no útero. Nesse ponto achei muita coisa. Alguns lugares falavam que com cinco semanas já visualizaria o S.E com o embrião dentro e ate mesmo ouviria o coração. Em outros lugares, falava que era possível não ter visualização do embrião, mas poderia ter o SE. E ainda em outros, que poderia não ver nada. Tal fato estaria ligado a uma ovulação tardia. Vendo assim: tudo era possível e aceitável. Insisti mesmo assim e fomos fazer o US.
Eu estava preocupada com as pequenas dores no lado direito porem procurava tentar curtir a gravidez. Tinha depositado anseios no ultra que faria.
Tomei litros de água e fomos para o exame. Era sexta feira dia 29 de junho. Entramos na sala, os procedimentos foram explicados e o exame começou, foi relativamente rápida a primeira parte, ela visualizou a bexiga, verificou os contornos e deu atenção especial ao ovário esquerdo, do qual segundo ela, teria originado o óvulo, pois havia nele um cisto de corpo lúteo. Ela fez as medições e pediu para que eu fosse ao banheiro e esvaziasse a bexiga. A segunda etapa do exame teria inicio, seria intravaginal. Ela verificou endométrio e o útero, falou que não havia ali um saco gestacional, porem afirmou que isso não significava que eu não estava grávida. Falou que normalmente esse exame era feito após a sétima semana, contou ainda que e comum não ter a apresentação do saco gestacional tao precocemente e ainda complementou que em sua gravidez, o embrião apareceu somente na sétima semana, sua filha já e criança e saudável. Ou seja: fique tranqüila, daqui duas semanas repete o exame e estará tudo bem.
Saímos do exame diferentes, sei lá por que. ela nos convenceu, sei la porque deixei de ouvir meu sexto sentido e sei la por que resolvi desencucar. Ela foi convincente, tinham fatos ao favor do discurso, não tinha mais sangramentos ou sinais e ainda, a ovulação tinha sido no ovário esquerdo, e minhas dores eram no direito, portanto: o neném não poderia estar na trompa direita! Certo? NÃO, não estava nada certo.
Ligamos para a medica com o laudo em mãos e lemos o resultado, ela fez um discurso semelhante ao da medica do exame, e disse para nos mantermos atentos a qualquer mudança. Enfatizou para repetirmos o exame com sete semanas.
Na mesma sexta feira meus pais foram em casa, contamos do exame e falamos que nada foi visualizado, falamos o que a medica do exame nos contou e também complementamos que não havia nenhum sangramento no útero ou coagulo, o que era um bom sinal. Não falamos, em nenhum momento, para ninguém sobre minha invocação. Não queríamos ser pessimistas. Tentamos curtir a gravidez.
Sábado fomos a um casamento, o Adri foi super companheiro, inclusive não bebeu (fato que muitas pessoas estranharam e ate mesmo contestaram, eu, particularmente achei sublime. Não obriguei ele a nada, ele simplesmente estava gestando como eu.) Domingo a um noivado surpresa.
O final de semana foi bom com bons momentos. Não falamos em exames, medos e receios, só falamos que iríamos escutar o coração do nosso bebe no próximo ultrassom.
A semana teve inicio e tivemos bons momentos. Sentimento materno aumentando e a certeza que ouviríamos o coração do neném em pouco mais de uma semana aumentava. Era um sonho tudo aquilo. Continuei recebendo os infomes semanais do desenvolvimento do neném os quais lotaram minhas caixas de emails. Estava com pouco mais de cinco semanas de gestação. Já havia algumas roupinhas do bebe em meu guarda roupas.
Tive sonhos estranhos no inicio da semana, acordava um pouco aborrecida mas logo passava. Continuei com a medicação e não tinha mais nenhum tipo de corrimento. Tinha pontadas no lado direito abaixo do umbigo, mas de alguma forma, segurei-me na idéia que o neném não poderia esta ali, visto que o óvulo era proveniente do ovário esquerdo.
Terça feira 03 de jul. estava novamente de mimimi, como descrevi anteriormente. Quanto fui dormir, falei para meu marido, sem pensar, que não me sentia conectada com o neném. Adri não disse nada, mas na seqüência eu falei que estava pirando, coisa de grávida e que logo ouviríamos o coraçãozinho a 140 bcm. Dormimos.
Quarta passei o dia todo deitada, indisposta e amoada. Minha mãe ligava freqüentemente perguntando se eu estava bem. Sei la por que, mas ela sentiu que eu estava com alguma coisa, na verdade ela sempre sente.
 O dia passou, meu marido chegou e resolvemos fazer omelete. Havia lido que era bom comer um ovo por dia durante a gestação e que esses deveriam ser bem passados. Fizemos a omelete, comemos, demos um tempo no sofá e fomos tomar banho. Pior banho de minha vida: o inicio do fim.

GE – parte 3: primeiro sinal de algo errado

Relatos de uma GE – parte 3: primeiro sinal de algo errado.

Daqui para frente tudo fica muito confuso e a sensação de luto tem inicio.
Sabíamos a data de concepção, a ultima menstruação e tínhamos a possível data de nascimento: ultima semana de fevereiro de 2013. Fiz cadastro em todo tipo de site, e principalmente nos que enviariam semanalmente o estagio em que o bebe estaria. Li o que pude sobre o inicio da gestação. Tudo ainda muito recente, mas causando uma movimentação enorme. Dentre de mim, o bebe deveria estar movimentando ao encontro do meu útero e procurando uma cama macia para firmar-se.
Eu estava me sentindo bem, mas acordei um pouco manhosa e de mimimi, (costumo falar para o Adri que estou de mimimi tentando caracterizar um desconforto manhoso que sinto as vezes quando há algo errado).  Passei o dia com sono e com muito mimimi. O Adri chegou do trabalho no final do dia, fizemos uma sopa quentinha, comemos e nos aninhamos um pouco no sofá.
Depois de um tempo fomos tomar banho, e o primeiro pesadelo veio, eu estava com uma pequena mancha em minha calcinha. Entrei em pânico, a mancha era bem pequena porem escura, parecida com finalzinho de menstruação. Percebi que ao fazer xixi e secar-me não havia mais nada, porem meu coração parecia que ia sair pela boca: o que estava acontecendo conosco.
Tomamos banho. Não havia sinal de sangramento. Deitamos.
Deitei e fiquei estática. Olhei para meu marido, e cai no choro. Falava descontroladamente que não queria perder nosso neném. Chorei chorei chorei, e uma nova mancha, marrom apareceu. O Adriano tentou me acalmar, relembrou que havíamos lido recentemente, que pequenos escapes ocorrem com freqüência, a net esta ai, basta pesquisar e ler o que convem... Frisou ainda que não se tratava de sangue vivo, era apenas um sinal marrom, uma borra de café. Combinamos que entraríamos em contato com a medica no dia seguinte.
Meu marido sempre deu um jeito de aliviar tensões, no momento pegou uma revista com nomes e pôs a ler, ao meu lado deitado na cama. Escutei atentamente, e fui ficando calma. Minutos depois cai no sono.
Na manha seguinte acordei assustada e fui verificar se havia algum novo sinal ruim. Novamente uma pequena borra de café, porem pouco intensa. Entramos em contato com a medica e expusemos a situação, ela nos fez algumas perguntas e falou que poderia ser realmente um escape, um instabilidade na fixação do embrião e receitou um medicamento idêntico a progesterona. Li a bula, verifiquei a finalidade, fazia sentido, então tomei a primeira cápsula, que se estenderia ate a décima segunda semana de gestação. A medica orientou para ficarmos atentos e para adiantar o ultrassom caso o sinal não parasse em 48 horas.
Entrei em contato com uma amiga do coração e contei sobre o fato. Ela afirmou que isso não ocorrera com ela, mas que se a medica havia dito que era um fato que ocorre com freqüência, então poderíamos ficar mais aliviados.
Poderíamos sim, mesmo porque as manchas diminuíram, mesmo porque na net, tinham inúmeros relatos que o fato era normal. Eu penso assim, normal não, mas talvez freqüente. Ter sangramento seja como for na cor que for no volume que for, corrimento e afins, não pode ser simplesmente normal.
Invoquei. Passei o dia pesquisando no oráculo google, os sintomas e as possíveis causas. No final das 24 horas, não tinha mancha marrom e sim uma pequena borra de café. Parecia aguado, como pó de café mesmo no coador. Muito pouco mas havia algo ali, e eu não estava gostando. Não senti que estava próximo a um aborto, na verdade durante a gestação não fiquei com medo de um aborto espontâneo ou ma formação. Eu estava com medo do lugar que o neném estava. Isso mesmo o lugar. Foi então que escutei meu medo e fui pesquisar sobre a fixação do embrião. Cheguei em um fórum onde vi o termo borra de café acompanhado do termo gravidez ectopica. Senti um peso enorme nos ombros, e a partir dali pesquisei muito sobre isso.

GE – parte 2 gravidos!

Relatos de uma GE – parte 2 gravidos!

Sim, grávidos! Na ocasião meus pais estavam de sobreaviso.
Embora termos combinado que contaríamos após o primeiro trimestre de gestação (onde diminui consideravelmente a chance de dar algo errado), o Adri acabou dando indícios para minha mãe de tal fato, antes mesmo de fazermos exames.
Explicando melhor: um dia antes da consulta, que contei anteriormente, o Adri almoçou com meus pais, na ocasião eu estava estagiando. Durante as conversas ele comentou para minha mãe que iríamos a medica e que eu estava uma pit bull, pois não dava nem para ele encostar em mim, além de eu, supostamente, estar com uma tpm dobrada devido ao atraso de dois dias. Mamãe que não é tonga nem um pouco, sacou tudo. Inclusive, posteriomente, nos relatou que teve exatamente esses sintomas quando engravidou de mim. Impossível ter esperado três meses. Ela já sabia antes mesmo de nós.
Com a confirmação, e fato consumado, a noticia foi dada aos familiares. Primeiramente meus pais (a ocasião faz o ladrão), meu irmão, Pai do Adri, Irmão do Adri, Irmã do Adri e finalmente a mãe dele. Cada um como uma reação diferente, emocionante. Para meus pais, primeiro neto. Para meu irmão, primeiro sobrinho. Para os familiares do Adri, o terceiro de uma nova geração.
Os dias seguintes incluíram, adaptação da noticia, e procura de conhecimento, em que mês estávamos, na verdade em que semana, porque os nenéns não nascem com nove meses e sim de 40 semanas. Como eram feitos os cálculos, como estaria o bebe, zigoto, embrião... o fato era: tinha um neném na minha barriguinha. Quatro semanas e três dias, concluímos. O calculo é feito a partir do primeiro dia da ultima menstruação, ou seja dia 23 de maio de 2012.
Ligamos para a medica e comuniquei que já estava grávida. Ela nos parabenizou e pediu para que voltássemos ao consultório pegar pedidos para novos exames, a conotação havia mudado. Os exames eram outros. Assim fizemos, pegamos novas solicitações.
Os dias começaram a demorar a passar, eu havia entrado em férias, e fiquei muito feliz com a coincidência. Porem eu estava insegura. Optamos por não contar nada a ninguém alem dos que já sabiam.
Coca cola foi cortada das refeições, outras frutas e verduras incluídas, limonada a vontade e comprimidinho de acido fólico para completar. Bebidas alcoólicas riscadas definitivamente, e companheirismo do marido firmado ainda mais. Ele falou que não iria beber ate que eu pudesse. Companheiro é companheiro...
No inicio da semana, o neném ganhou o primeiro presente: um parzinho de sapatinho de tricot vermelho, feito pela minha mãe. Simplesmente sensível e lindo. Era o que o neném precisava: muito amor dos avos.
Acabei comprando um parzinho de meia branca, e também um conjunto de recém nascido após sonhar que o neném passava frio. Sonhos estranhos entraram no repertorio noturno. O marido nos deu orquídeas, um presente infinitamente romântico.
Comecei a ter sintomas típicos, dores mais intensas nos seios, e enjôos matutinos, sentia-me ligeiramente grávida. Ao Adri, a ficha ainda encontrava-se no vácuo, não havia caído completamente, mas ele já estava extremamente babão, e loucamente apaixonado.
Estávamos felizes e radiantes, porem eu sentia muita insegurança com a divulgação dos fatos. Pois é, tinha motivos e nem sabia.
O primeiro pesadelo veio, mas não estávamos dormindo.

GE – parte 1: onde tudo começa.

Relatos de uma GE – parte 1: onde tudo começa.

Agora que tudo chegou onde chegou, percebi que falar sobre o  assunto não e fácil, porem a idéia de escrever, ou digitar que seja, esta me parecendo terapêutico. Ontem vi um recado de uma das meninas no blog, o qual acabou reforçando a idéia de compartilhar o que passei. Talvez ajude alguém, talvez seja uma meio de informação. Não tenho objetivo alem de simplesmente compartilhar e desabafar. A quem de alguma forma me entenda, um super obrigado, então vamos la:

Pensei em relatar desde o inicio do fim ou seja, desde o rompimento da trompa e hemorragia interna, porem o inicio real dessa gestação foi alguns dias depois da concepção, (quanto houve a fixação do zigoto). ai que minha G.E. gestação ectópica, realmente começou.

Sempre tive acompanhamento regular em ginecologistas, mantendo-me saudável, com o exame papa Nicolau em dia e afins. Depois que nos casamos, naturalmente começamos a planejar nosso bebe. Na verdade sempre planejamos, tanto que antes mesmo de casarmos eu já havia parado de utilizar anticoncepcional. Nosso método de controle, desde então, foi baseado na tal da tabelinha e funcionou direitinho. Por cerca de um ano sem o uso de medicação pude estabelecer meu ciclo constante. 24 dias, raramente 23, nem dias a mais nem dias a menos. Contudo, deixamos rolar e evitamos os dias férteis na idéia de que era hora de meu organismo livrar-se do uso constante do anticoncepcional oral, mais de 15 anos. (ta certo que muitos médicos afirmam que não tem que ter essa desintoxicação, que o uso constante é seguro e bla bla bla, porem se pode deixar de usar, porque não faze-lo? Parei de tomar.)
A idéia era sonharmos com um baby no ano de 2013, para tanto tínhamos que levar em conta que o nascimento teria que ser para depois de minha formatura. Loucura planejar, mesmo porque sempre acreditei que na verdade nunca existira um dia perfeito. Idéias de melhorar o espaço, de ter mais condição financeira etc etc etc acaba adiando sonhos de muitas pessoas.. ao contrario disso, sempre fui do tipo de pessoa que acredita que na vinda de um bebe as coisas se ajeitam em volta... mesmo assim- semi plenejamos.
Digo semi, pq tudo e relativo nessa hora. Mil palpites de todos os lados. Alguns apoiando, outros perguntanto qndo iríamos tentar, e outros, ainda, falando para deixarmos para mais tarde (declaro abertamente aqui que senti raiva desses últimos... pq deixar para mais tarde? A escolha e nossa, não somos crianças, temos nossos sonhos e podemos realiza-los! Pronto falei.) mas voltando:
Os meses foram passando e tudo estava bem. Correria com construção, mudança, novos bichos de estimações etc etc etc. Apos alguns meses, resolvemos brincar de tentar engravidarmos. Estávamos felizes e faceiros, tínhamos nosso cantinho, nossos bichinhos, uma certa estabilidade, muito amor e vontade de materializar nossa imensa ligação em formato de uma pele rosada, com cheirinho irresistível e risadas contagiantes.
 Fiz os cálculos e nos colocamos aos treinos. Na primeira tentativa, aos 24 dias menstruei. Foi estranho, mas não chegou a ser frustrante. Nos dois meses seguintes idem, porem senti desconforto. Ao nos depararmos com tal, percebemos o quanto era fácil cair na  “pira de engravidar”. E muito fácil entrar nessa cilada, mesmo, acreditem.
O pessoal fala que desencanar ajuda, mas como desencanar?
Você foca em um sonho, imagina uma vida toda, e ate sonha com nomes, anda em tudo que e canto, vê nenéns, famílias, brinquedos, vitrines de roupinhas e pançudas desfilando com suas lindas barrigas pelas ruas. Pergunto novamente: como desencanar?
Faculdade  a mil, estágios, trabalhos e pos graduação, foram pratos cheios para o tal desencanar... mas a proposta do marido foi fundamental e certeira - não faça contas, deixe comigo.

Faço controle semestral com a ginecologista, e resolvi marcar um horário para checarmos se estava tudo ok. Digo checarmos no plural porque tenho um marido companheiro. desde que estamos juntos, nunca fui a ginecologista sem a companhia dele, a primeira vez que ele perguntou se eu queria companhia (perguntou, não pediu), hesitei, porem respondi que queria e me permiti dividir com ele um pouco mais de mim; desde então, ele entra no consultório sim, acompanha o exame sim, conversa com a medica tanto quanto eu e ainda assiste na telinha a colposcopia. Parece estranho, mas a medica gosta muito dessa conduta, as vezes esqueço de perguntar algo e ele acaba perguntando, ficamos todos muito a vontade e saímos da consulta sem duvidas e muito bem esclarecidos. Não acho que os maridos que não são assim estejam errados, porem acredito que eles perdem muito, o Adri pode falar melhor sobre isso.

Antes de casarmos fizemos exames básicos, sangue, urina, DST e ate o espermograma, porem optar por engravidar aumenta consideravelmente os exames a serem feitos.
A medica que nos acompanha tem muitos pacientes, ela é extremamente competente e profissional o que resulta em dificuldade de horários e agendas lotadas. Ao ligar para marcar uma consulta, sempre tenho em mãos meu ciclo menstrual e também prováveis dias de menstruação, não posso correr o risco de marcar uma data e no dia estar menstruada.
Marquei para a data mais próxima dia 20 de junho de 2012, um mês a esperar. Pelas minhas contas meu ciclo encerraria três dias antes, perfeito.

O mês voou, eu e marido formulando as perguntas que faríamos a medica e como informaríamos a ela que queríamos um bebe.
Eis que a data para minha menstruação falhou. Tínhamos focado tanto na consulta que a preocupação passou a ser:menstruar bem no dia e perder o horário...
A menstruação não veio e fomos na medica. Conversa para la e para cá, informamos que queríamos engravidar, ela contou os passos, os exames, inclusive passos seguintes, hormônios, exame nas trompas etc etc etc... um rol de opções que teríamos, passo a passo, um de cada vez, caso o anterior falhasse. Coletou material para o papa Nicolau e pediu os primeiros exames preparativos, o que incluía a prolactina para ver a quantas estavam meus horamonios. Nesse momento conversamos sobre meu ciclo que era perfeito 24 dias: Estávamos nos 28 e nem sinal.
Bingo! A possibilidade de já estarmos grávidos veio a tona, junto com o pedido do exame do beta.
Fazendo um parênteses aqui, claro que passou vagamente pela nossas cabeças que o atraso era estranho... claro que passou pelas nossas cabeças que poderia ter algo ali, acontece que eu tinha tooooodooosss os sintomas habituais de minhas tpms. Cólica leve, dores dos seios, embora essas tenham sido diferentes pq não passavam nunca, espinhas no rosto e um mau humor do djanho. (Adri fala que eu viro pitbull). Acho que ficou mais fácil fazer de conta que não era, por medo de acreditar que era e no final não fosse, complicado isso, mas é isso mesmo.
Agora era diferente, a medica disse....
Saímos dali doidões. Passamos na primeira farmácia e compramos um teste de urina. Chegamos em casa a noitão e, embora na embalagem falasse- para qualquer horário do dia, optamos por coletar a primeira urina do dia seguinte.
Antes de dormimos, olhamos um para o outro com olhos brilhantes cheios de esperança. Amo você. Eu amo mais. Boa noite.
Bem quietinha, rezei, pedi para que nessa noite não tivesse um sinal vermelho, pedi para que dentro de minha barriguinha, nosso neném estivesse se desenvolvendo. Dormi sorrindo.
Seis da manha, correria, fomos nos arrumar para enfrentar a rotina de toda quinta feira. Não resisti, corri para o banheiro peguei o teste de gravidez, mirei o xixi, como um arqueiro profissional e fiquei olhando. Não precisou dos três minutos, e em 10 longos segundos (mulheres que já fizeram esse teste sabem do que estou falando), os dois riscos fortes apareceram: POSITIVO.
Corri para a cozinha pulei a cavalo no Adri e dei a noticia: - tem neném na minha barriguinha!
Não vou nem tentar descrever o momento mágico, só sei que foi mágico. O dia todo tornou-se mágico, um segredo mágico.

No dia seguinte, dia 22 de junho confirmamos com o exame de sangue. Estávamos definitivamente entrando em uma nova etapa de nossas vidas: GRAVIDOS.
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