segunda-feira, 9 de julho de 2012

GE – parte 8: depois que a anestesia passa

Relatos de uma GE – parte 8: depois que a anestesia passa

No meio da madrugada acordei. Impossível dormir deitada com a barriga para cima e as pernas formigando. Sentia uma leve queimação no novo corte, mas tolerável, bem menos intenso do que as dores da noite anterior (e menor ainda do que os apertos da medica do UPA).
Olhei para o lado, minha mãe dormia. Movimentei meus pés e senti que a anestesia estava passando. Adormeci novamente. Três horas da manha acordei assustada, estava sonhando que havia feito xixi na cama, e quase fiz.
Segurei o xixi na hora H. respirei fundo e percebi que já não estava mais anestesiada. Minha bexiga estava explodindo. Sem chances de dormir, e chances menores ainda de chamar uma enfermeira que, certamente, me obrigaria a urinar na tal da comadre. Não funciono assim, preciso de patente!.
Chamei bem baixinho por minha mãe, ela acordou na terceira vez, assustada, tentei não assustar mas não teve jeito. Falei que precisava ir ao banheiro, ela falou que chamaria uma enfermeira mas também sabia que se assim fosse, ela não deixaria eu sair da cama.
Minha mãe me entende muito, e nesse fato em especial. As vezes que fui sua acompanhante, nas cirurgias que ela passou, aconteceu a mesma questão. Ela não consegue urinar na tal da comadre. Ela sabia o que eu estava sentindo.
Então formos fazer arte. Ela me ajudou a sentar. O mundo disse oiii mah! E eu ignorei. Respirei fundo, pus meus pés no chão, segurei na mão da mãe e dei os primeiros passos. A sensação era que eu tinha corrido 60 km. Exausta, suando litros e branca igual giz. Apoiei-me na outra cama, em frente ao banheiro. Enjoei, fiquei tonta e, aguardei alguns instantes meditando. A mãe segurando o soro. Minha mãe resolveu ser reciever no momento e passou as mesmas sensações que eu, não deixou de ser cômico. Ficamos sentadas uma refletindo brancura para a outra, por um tempo.  Remada a “normalidade” e já no banheiro chamamos a enfermeira para ajudar a sentar no vaso, afinal, ela não faria eu voltar ate a cama antes do xixi.
Aliviada, com menor pressão na bexiga, fui para a cama e dormi, depois do Xingo da enfermeira.
Já era, boa noite.
Na manha seguinte tivemos a visita da medica bem cedinho, ela perguntou como eu tinha passado, como estava me sentindo e que provavelmente daria alta no dia seguinte. Falei a ela que eu gostaria de dormir em casa. Diante do apelo ela afirmou que passaria as oito da noite para ver o meu desenvolvimento e talvez pensar na alta.
Almocei comida, sopa to fora. Levantei mais vezes para urinar porem sem mundo rodante. Dormi bastante nos intervalos. Pensava pouco, muito pouco, sobre tudo.
A dor física ficou mais característica, sentia os pontos queimarem e sentia uma dor bem localizada no local que a trompa foi retirada. Dói de verdade e muito. Queima, arde, da pontadas, mas passa.

 Durante a noite anterior, logo após a cirurgia, conversei com o Adriano sobre avisar as pessoas da cirurgia. Apenas minha mãe foi informada, e era hora dos outros familiares saberem da perda. Logo que saiu do hospital, ele fez os telefonemas, imagino que tenha sofrido muito, e eu não estava ao seu lado. Também fico imaginando como deve ter sido triste a volta dele para casa, sozinho na estrada. Não deveria ter deixado ele ir embora sozinho. No dia seguinte ele chegou as duas da tarde, com atestado em mãos e uma olheira de urso panda. Passamos a tarde assistindo tv. Minha mãe saiu tomar um café e comer alguma coisa, e nesse momento ele contou que tinha feito os telefonemas, contei a ele q também havia mandado mensagens para alguns amigos; ficamos os dois quietos, cúmplices da mesma dor.

Minha bexiga estava funcionando bem, sentia fome, o que indicava que o estomago continuava funcionando como uma lombriga. Não tive nenhum sangramento, nem através dos pontos e nem via vaginal. Eu imaginei que teria uma menstruação ou algo do gênero, mas nada. No final da tarde, me sentia relativamente bem, queria ir para casa. Tomei banho, e vi a cirurgia, não era tão assustadora como em seu sentido figurado.
Aguardei a medica, pronta para a alta, e foi o que recebemos.
Ela frisou que preferia que eu ficasse embora tivesse condições para uma alta, pois a evolução foi muito boa, no entanto ela sabia que ir para casa significa muito. Fez varias recomendações, reafirmou que eu tinha que ficar em repouso absoluto, explicou que ainda tinham alguns coágulos no abdômen e que esses seriam absorvidos pelo organismo, e que para isso era importante o descanso total. Eu iria me sentir melhor, mas teria que continuar com os mesmos cuidados ate a retirada dos pontos.
Juntamos as coisas, sentei em uma cadeira de rodas e saímos do quarto, sexta feira, 21:00, 06/jul/2012.
Meu coração doeu quanto passamos pela ala da maternidade, as portas tinham enfeites e nominhos de bebes recém nascidos. Entrando no elevador senti que meus olhos estavam cheios de lagrimas. Era a anestesia mental passando. 

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